27.12.10

Por dentro de Regina Rizzi

Fiquei fascinado ao ver o desempenho da atriz pornô Regina Rizzi em um vídeo da série gringa Mike in Brazil. Nunca tinha visto antes um filme dessa gaúcha que ostenta 130 centímetros de quadril. Depois de conferir os trabalhos dela em outras obras pornô, tentei marcar uma entrevista com Regina para Mondo Cane. Não tive sucesso, pois a mulher vivia viajando para fazer shows em boates ou programas sexuais. Então pedi para o cineasta Valter Noronha escrever um texto sobre as impressões que ele teve quando viu essa gostosa pessoalmente pela primeira vez.

"Sem dúvida alguma posso dizer que Regina Rizzi é uma das grandes revelações do pornô nacional. E isso em todos os sentidos. Antes da Erotika Fair de 2009, eu desconhecia quem era essa mulher. Mas sabia que iria encontrar atrizes veteranas e novatas nesse evento. Quando estava no stand da Morgana Dark vendo a própria tirar fotos com seus fãs, reparei em uma morena com um corpo do tipo “gostosa da laje” sendo simpática e tirando fotos junto com uma loira também muito bonita.

Resolvi me aproximar e me identifiquei dizendo que gostava de seus filmes (claro que foi conversa fiada). Ela me agradeceu e perguntou se eu havia gostado mesmo dos filmes. Disse que sim e pedi pra tirar uma foto ao lado dela, no qual fui prontamente atendido. Depois de me despedir, fui conferir outras atrações da feira, mas já com aquela curiosidade de ver alguma cena dela.

Só me esqueci de um detalhe simples e essencial: não tinha perguntado seu nome. A sorte (muita sorte, aliás) é que alguns dias depois eu vi uma foto dela numa comunidade do Orkut (Discutindo o Cinema Adulto) onde participo ativamente. Lá perguntei o nome dela e um amigo respondeu: Regina Rizzi. Daí pra procurar os vídeos dela foi um pulo e me surpreendi com sua capacidade de encarar as cenas de sexo, mesmo sendo claramente prejudicada em algumas, como na cena com o Don Picone, que poderia ter sido muito melhor, não fosse a arrogância extrema do ator.

Mais algumas cenas depois e fiquei convencido de que ela realmente gosta de sexo, faz por prazer e ainda tem a vantagem de ter um corpão que atende uma boa parcela do público, que gosta das atrizes mais fartas. Até sua canastrice em cena deixa tudo mais divertido para o espectador. Diria que ela tem um grande futuro na indústria dos filmes adultos nacionais. Resta saber se essa indústria vai sobreviver e se vai conseguir se renovar, pelo menos para que atrizes do porte de Regina Rizzi não fiquem, injustamente, esquecidas pelos caminhos muitas vezes indigno e cruel do mundo pornô". (Valter Noronha)


Valter Noronha (acima, com a exuberante Regina Rizzi toda de branco) dirigiu o documentário Borboletas e Devassas, sobre o pornô da Boca do Lixo, e finaliza um segundo, dessa vez abordando o pornô tupiniquim nos anos 90 e 2000. Saiba mais sobre Borboletas e Devassas clicando aqui e aqui.

23.12.10

Fuk Fuk à Brasileira

“Fuk Fuk à Brasileira”, de 1986, é um dos filmes mais nonsenses da fase pornô do cinema da Boca do Lixo. Dirigido por Jean Garrett (um dos vários gênios do cinema brasileiro que caíram na pornografia pra poder pagar as contas no final do mês, já que nos anos 80 os exibidores de filmes só exigiam obras com cenas de sexo explítico), “Fuk Fuk” é uma obra-prima do mau gosto.

O protagonista do filme é o anão Chumbinho, que narra suas peripécias ao longo da película (sim, essa obra passou nos cinemas do País). “Oi, eu sou Siri. Sou mudo, mas mesmo assim fui escolhido para lhes contar minha história”, diz o personagem de Chumbinho, sem mexer os lábios. A voz em off explica que conseguimos ouvir Siri porque ele é um telepata. Ele continua: “Desde que me lembro, sou anão. Fugi de casa pequeno e fui trabalhar na casa do doutor Júlio e de dona Lia”.

Siri sempre está perto de Júlio e Lia, mesmo quando o casal está transando. Ele é uma espécie de mordomo, que deve estar presente, por exemplo, para preparar o banho de dona Lia assim que ela termina de fazer sexo com o marido. Toda sexta-feira, doutor Júlio traz presentes para a esposa e para o empregado Siri. Lia sempre ganha joias e perfumes. Já Siri, toda vez recebe um vibrador. A coleção de consolos fica num armário do quarto de empregado.

Certa noite, Júlio e Lia recebem a visita da amiga Claudinha. Os três vão para a cama, enquanto Siri fica sobre uma cadeira esperando por alguma ordem. Dessa vez, o anãozinho está nu, usando apenas uma gravata. Não demora muito, e Júlio faz um pedido para ele:

- Siri, vai na cozinha pegar manteiga.

O serviçal obedece. Ao retornar para o quarto, recebe nova ordem:

- Passa no cuzinho da Claudinha. Ela não é nenhuma Maria Schneider, mas eu vou lhe comer o rabo.

Claudinha não gosta do comentário e deixa o quarto, mas antes dispara:

- Olha aqui, você também não é nenhum Marlon Brando, viu?

Antes de se contentar em fazer sexo anal com a esposa, Júlio dispensa Siri do quarto, dizendo que ele pode descansar. O anão vai até a sala, se joga no sofá de bruços e tira um cochilo.

Júlio começa a passar o produto gorduroso no ânus da esposa, quando ela diz:

- Amor, pela viscosidade parece margarina.

- Mas é margarina mesmo. Não estamos em Paris e sim no Brasil.

Lia desiste e também deixa o quarto. Ao descer as escadas, Júlio dá de cara com Siri com o bundão (no caso dele, bundinha) virado para cima e pensa:

- Se não tem cu, vai tu mesmo.

Ao sentir as mãos de Júlio apalpando seu traseiro, Siri acorda assustado e corre pro banheiro. Ainda tarado, Júlio faz de tudo pra arrombar a porta e algo mais. Desesperado, Siri entra na privada e dá descarga. O anão vai parar num bueiro. Depois ele volta pra casa escondido, na calada da noite, só pra pegar sua coleção de consolos, que guarda numa caixa de isopor. Depois o anão vai buscar refúgio na pensão de um casal de portugueses. Siri dá uma de seu Madruga e fica enrolando para pagar o aluguel. Ele justifica para o telespectador, sempre falando mentalmente:

- A poupança que eu tinha era um pouco menor do que eu e já tinha acabado há muito tempo. E emprego, sabe como é... o que pode fazer num país de terceiro mundo um cara que é anão, preto, semianalfabeto, mudo e sem vontade de trampar?

Achou bizarro? Tudo isso que foi descrito até agora acontece somente nos primeiros minutos do filme. Ao longo da fita, Siri ainda tem o ânus improvisado como cinzeiro de charuto, dialoga com um cavalo falante e ainda corre o risco de ser castrado numa praia por um zeloso pai de família, entre outras presepadas.

Direção: J.A. Nunes (pseudônimo de Jean Garrett baseado em seu nome verdadeiro, que era José Antônio Nunes Gomes da Silva). Elenco: Chumbinho, Bianchina Della Costa, Iragildo Mariano, Lia Soul, Walter Gabarron, Flávia Sanches, Abel Constâncio, Oásis Minitti, Pedro Terra, Solange Dumont, Oswaldo Cirilo, Fátima Funny, Lilian Villar, Francisco Rezende, Andrea Pucci e Mauro Pinto. Duração: 1h10.

5.10.10

Censura eu também, Folha!

Pau que bate em Chico, não deve bater em Francisco. O jornal Folha de S.Paulo, que se diz um defensor da liberdade de expressão, entrou na justiça contra um site de humor que tirava um sarro da linha editorial do jornal, mostrando que o apartidarismo do jornalão não passa de uma balela.

Os idealizadores do site Falha de S.Paulo tiveram que retirar todo o conteúdo do ar para não correr o risco de desembolsar R$ 1.000 por dia. Curiosamente, a Folha conseguiu a liminar no dia 30 de setembro, quatro dias depois de publicar em sua primeira página um editorial com o título
“Todo poder tem limite”.

No caso da Falha, a Folha mostrou que não teve limite para usar seu poder. O jornal já enfiou um processo nos criadores do site, em vez de procurá-los para mostrar o descontentamento do jornalão com a sátira.

"A gente ficou muito inconformado, porque foi de uma incoerência atroz. A gente não tem advogado, a gente não tem nada! A gente nem viu o processo. É de uma violência absurdamente grande, totalmente incoerente com o que a própria Folha defende", declarou ao Portal Imprensa um dos criadores do site, o jornalista Lino Bochini.

A advogada da Folha, Taís Gasparian, alegou que o jornal não queria censurar o site, mas apenas impedir o uso indevido da marca Folha de S.Paulo. Uso indevido? Os caras apenas satirizaram uma marca, coisa que o colunista José Simão tem liberdade para fazer no jornalão da família Frias. Aliás, como bem lembrou o mano Fausto, do blog Boteco Sujo, quando o Simão foi vítima da mesma censura judicial por conta de uma piada que ele fez com a atriz Juliana Paes, a mesma advogada disse que a decisão do juiz tratava “o humor como ilícito e, no fim das contas, é a mesma coisa que censura”.

É justamente por causa da atitude censora da Folha de S.Paulo que, a partir de hoje, Mondo Cane, republicará parte do material da Falha de S.Paulo.



Atualização: Apesar de não ser político (deus que me livre), sou péssimo para cumprir promessas e não republiquei o conteúdo do Falha de S.Paulo. Mas nem foi preciso. De maneira criativa, os responsáveis pela sátira que incomodou o jornalão da família Frias retornaram com o site "Desculpe a nossa falha". Lá é possível conhecer o risível processo movido pela Folha de S.Paulo e ficar por dentro de todo o barulho causado pela brincadeira dos irmãos Bocchini.

15.7.10

Prostituta fantasma volta para assombrar colegas

Certa vez num quarto de hotel barato, no centro de São Paulo, após uma bela de uma foda, uma GP (garota de programa) do Teatro Orion contou-me uma história de arrepiar. Disse ela ter sido vitíma de assombração numa noite em que dormira nos aposentos daquele velho e sinistro teatro.

Segundo a garota, naquela noite ela resolveu que dormiria lá mesmo já que morava longe e não tinha muita disposição para dirigir. Esperou que todos fossem embora e que o teatro fechasse.

Ela foi até um quarto instalado nos fundos do teatro, longe da vista do público, ficando totalmente solitária naquele local escuro e sombrio. Na época ainda não havia as suítes recém-construídas que existem hoje.

Para se fazer programas, os clientes tinham que sair com a garota para um hotel nas redondezas, geralmente uma espelunca qualquer.

Portanto, aquele era o único quarto disponível que havia para ela dormir no teatro. Tratava-se, na verdade, de um cubículo com uma cama improvisada, instalado dentro do camarim das garotas.

A GP tratou logo de se acomodar. No quarto não havia TV, então ela deitou-se, apagou a luz e esperou o sono chegar. Já passava da meia-noite quando ela conseguiu finalmente dormir. Na calada da noite, ela despertou pensando ter ouvido alguém tentando abrir a porta do quarto que estava trancada.

Ainda sonolenta, ela pensou que tivesse tido apenas uma falsa impressão e voltou a dormir. Longe dos ruídos noturnos do agito da Rua Aurora e redondezas, a garota repousava sob um total silêncio, quase sepulcral. Tivera um dia agitado, bebera além da conta e fizera bons programas. Meteu bastante.

Mas um mal súbito a acordou no meio da noite. Assustada, agora ela tinha a certeza que não estava sozinha no quarto escuro. A garota podia perceber um vulto a observá-la. Talvez fosse um sonho ou um pesadelo, mas bastou alguns segundos para que a GP tivesse a plena certeza de que estava acordada e de que a situação era real: tinha alguém no quarto com ela.

Seja lá quem fosse, o vulto abriu a porta. Ela pode ouvir os passos. Com o coração batendo forte e totalmente paralisada, a garota não ouviu mais nada. Nem sequer os passos da pessoa nas escadas de metal, único local de acesso para quem quer sair dali e dirigir-se para a parte de fora dos bastidores do Teatro Orion.

Não era possível que essa pessoa não tivesse saído dali sem passar pelas escadas sem fazer barulho. Apavorada, a garota não conseguiu mais dormir e tampouco adquirir coragem para levantar da cama e verificar o que estava acontecendo.

Deitada em seu leito de horror, a GP delirava, quando lhe ocorreu a lembrança do triste episódio da garota que morrera no palco durante o show que fazia. Para pavor de todos que estavam no teatro naquele dia. Já seminua, a garota teve um ataque súbito e caiu estirada no chão. Foi socorrida e levada, do jeito que estava, por uma ambulância para o hospital.

Mas já era tarde demais para a garota. Morrera a caminho do hospital ou quem sabe já estivesse morta quando caíra desfalecida e nua sobre o palco, no último show de strip de sua insignificante vida. Dizem que essa infeliz puta fora vítima de uma cirurgia plástica mal feita de implante de silicone nos seios.

Na época era moda ter peitões siliconados. E quase que uma obrigação para as putas também tê-los. Mas como as GPs do Orion gozavam de poucos recursos, então elas procuravam qualquer carniceiro que lhes deixasse os peitos mais vistosos para deleite dos tarados de plantão. cobrando um valor acessível. No caso dessa pobre infeliz, o barato lhe saiu caro e acabou lhe custando a vida.

A GP que decidiu dormir no Orion começou a sentir calafrios ao lembrar das histórias que ouvira de outras garotas, que juravam ter visto a falecida vagando pelos bastidores do teatro no intervalo dos shows. Com a mente tomado por essas lembrancas terríveis, ela passou o resto da noite em claro.

Ficou ali acordada até o amanhecer. Quando, finalmente, viu a claridade do dia, a GP tomou coragem e saiu de seu quarto. Com apenas a cabeça para fora do quarto, de espreita atrás da porta, ela olhou por todo o estreito corredor da parede final até as escadas de metal e nada viu de estranho. Vestiu-se e foi ao banheiro onde não havia niguém. Ela estava completamente sozinha.

Seria essa história verdadeira? Ou apenas um delírio macabro?

Bom, claro que o universo das garotas de programa é extremamente fantasioso e feito de mentiras. Mas dois amigos meus, que se dizem sensitivos ou algo assim, juram de pé junto que o Teatro Orion está tomado por energias negativas. Seja lá o que for isso. Inclusive, um deles, teve um surto de loucura certa vez, aprontando os diabos lá dentro, jogando lata de cerveja no chão, fumando onde não podia fumar e beijando a testa do segurança até ser retirado à força do local. Ensandecido, ele bradava: "Eu sou o Renato Mendes, tirem as mãos de cima de mim. Eu sou o Renato Mendes. Vocês me pagam, eu tenho um laptop". Sinistro!

Para mim, o Teatro Orion não traz mau agouro algum, muito pelo contrário. Sinto uma paz interior intensa quando estou naquele recinto. O Orion é para mim um santuário (ops), onde posso descansar e orar em paz, em nome da santa putaria, longe da inquisição do dia-a-dia e das assombrações do cotidiano maçante.

A única assombração que vejo ali são as mulheres feias e pavorosas que existem aos montes. Verdadeiras filhotes de cruz-credo. E isso não é pouca coisa.

(Texto de Baby Doc, matemático e pornófilo, em colaboração exclusiva para Mondo Cane. A arte que ilustra esse post é do desenhista Fulvio Pacheco)

3.7.10

Primeiro pornô 3D faz 20 anos

A Folha.com noticiou recentemente que a Hustler seria responsável pela produção do primeiro filme pornô com cenas em 3D. Na verdade, a primeira obra do gênero com sequências tridimensionais foi dirigida pelo mestre Anthony Spinelli em 1990, ou seja, há exatos 20 anos.

"Princess Orgasma and the Magic Bed" traz no elenco as deusas Nina Hartley, Debi Diamond e Diedre Holand, entre outras atrizes, ao lado dos veteranos Joey Silvera, Buck Adams e John Doug. O filme foi lançado nas locadoras do Brasil como "A princesa Orgasma e a cama mágica" entre o final de 1992 e o início de 1993.

Na época do lançamento, a novidade chamou a minha atenção. Quem alugava a fita VHS, levava para casa o tradicional óculos para filmes 3D, com uma lente azul e a outra vermelha.

Não me recordo se "A princesa Orgasma" foi o primeiro filme 3D que vi na minha vida. Ou se foi "Freddy's Dead: The Final Nightmare", de 1991, uma das piores partes da série "A Hora do Pesadelo", que assisti no cine Marabá no mesmo período em que o pornô 3D chegava no Brasil.

A história de "A princesa Orgasma" é bem simples. Cada casal do filme passa a ter viagens alucinógenas, antes mesmo de fazer sexo, apenas ao subir na cama mágica do título, que pertenceu à princesa Orgasma há um século. Maças e vibradores voam ao redor dos protagonistas e do espectador que está usando os óculos 3D.

Mas a melhor coisa do filme é ver estrelas como Nina Hartley e Debi Diamond em cenas de sexo explícito em terceira dimensão. Quem não queria ter a impressão de se sentir no mesmo set com essas mulheres? A única desvantagem era continuar assumindo o papel de voyer, mesmo com a sensação de estar a poucos metros das estrelas do pornô americano.

(Mondo Cane agradece a Asahi Video por fornecer a imagem da capa que aparece nesse post. A Asahi é uma locadora especializada em filmes pornográficos há 20 anos. Conheça o site dela clicando aqui)

30.6.10

Eu tenho uma camiseta do anão Chumbinho

Desde criança gosto de usar camisetas com estampas relacionadas às coisas que eu gosto. Nunca gostei de transformar meu peito em outdoor de grifes como Nike e Adidas, por exemplo. Faria isso se recebesse algum cachê para divulgar os logotipos dessas empresas. Quando eu era criança, no final dos anos 70 e início dos 80, costumava vestir camisetas de personagens da Turma da Mônica e da Hanna-Barbera.

Aos 12, continuava lendo gibis e vendo desenhos animados, mas comecei a me interessar pela música heavy metal. Foi quando pentelhei minha mãe e consegui uns trocados para comprar umas t-shirts do Iron Maiden e do Metallica. Mas pouco tempo depois conheci o punk rock dos Ramones e o hardcore do Ratos de Porão e virei a casaca, digo, a camiseta. Com meu primeiro salário, quando tinha 13 para 14 anos, comprei uma camiseta com a capa do disco "Crucificados pelo sistema", primeiro trabalho do Ratos.

Ao longo de 30 anos, ostentei todo tipo de estampa em minha caixa torácica. Algumas delas, colocaram minha vida em risco, como camisetas de bandas punks (nos anos 80 e parte dos 90 havia muita briga entre facções) e do meu time de coração, o Corinthians (que evito usar em dias de jogos diante da selvageria das torcidas organizadas, cujos integrantes são mais selvagens que o mais empedernido skinhead).

Quando tinha 20 e poucos anos, sempre quis ter uma camiseta com algum detalhe pornô, mas nada explícito, é claro. Como não achava nada no mercado, resolvi fazer a minha própria t-shirt e estampei o logotipo Buttman numa delas. Essa camiseta virou folclórica entre coleguinhas da imprensa porque a usei durante uma coletiva com o então governador Geraldo Alckminn.

Não preciso mais me preocupar em fazer minhas próprias camisetas pornô. Agora posso contar com os serviços do site La Bianca, que faz por encomenda qualquer t-shirt. Finalmente tenho uma camiseta do maior ator que o cinema pornô brasileiro conheceu, o anão Chumbinho. Você também pode embelezar seu peito com estampas da Belladonna e da Linda Lovelace, entre outros modelos disponíveis, clicando aqui.

22.6.10

Ivan, a nova produção da Black Vomit Filmes

Depois do elogiado documentário “Guidable — A Verdadeira História do Ratos de Porão” (2009), o diretor Fernando Rick, de 27 anos, volta a dirigir um filme "doidão", como ele próprio classifica seu curta-metragem "Ivan" (2010). E filmes doidos não faltam no currículo dele, responsável pelas obras "Rubão, o Canibal" (2002), "Feto Morto" (2003) e "Coleção de Humanos Mortos" (2005).

É perceptível como Rick tem evoluído como diretor a cada filme de sua produtora, a Black Vomit Filmes. Assim que saiu da adolescência, Rick pariu "Rubão" e "Feto Morto" ao ser influenciado pelas tranqueiras geniais da Troma (produtora americana de filmes independentes criada por Lloyd Kaufman), que misturam comédia, violência e sexo.

Aos 22 anos, Rick deixou o humor de lado e regurgitou "Coleção de Humanos Mortos", um filme extremo com muitas cenas de tortura. Guardadas as devidas proporções, pois estamos no Brasil, onde ser cineasta deve ser um parto, nessa fase o trabalho de Rick se aproxima de cineastas do naipe de Jörg Buttgereit e Nacho Cerdá.


"Ivan", rodado no mês passado no Centro de São Paulo, é um "drama de humor negro", nas palavras do ator Rubens Mello, que interpreta o travesti Darlene Starr. O curta tem como protagonista o ator André Ceccato, que já participou de vários filmes brasileiros, entre eles "O país dos tenentes" (1987), "Bicho de sete cabeças" (2001) e "Carandiru" (2003).

Ceccato é Ivan, dono de um teatro decadente que precisa vestir uma fantasia de Mickey sob um sol escaldante para entregar panfletos e, assim, garantir o seu sustento. Ele mora num cortiço e seus únicos companheiros são o travesti Darlene Starr e um rapaz que ganha a vida fazendo cover de Michael Jackson em botecos e outros muquifos.


A vida de Ivan sofre uma reviravolta depois que ele vai fazer um teste de figurante numa emissora de TV. No caminho para casa, Ivan vê Darlene ser espancada por delinquentes juvenis. Ele tenta ajudá-la, mas também acaba agredido até seu rosto ficar desfigurado. Apesar de tanto sofrimento, Ivan conseguirá sua redenção.

"É meu primeiro curta com uma produção grande, com uma equipe e equipamentos adequados. O resultado está ficando muito foda, acima até do esperado. Em grande parte, isso se deve ao talento de todo mundo que ralou igual camelo por acreditar nesse projeto bizarro", diz Rick.


"Espero que o público simpatize com o filme, porque deu um trabalho do cão para fazê-lo. Hoje em dia não tem muita gente, pelo menos no Brasil, que se dedica a um projeto maluco desses, com personagens (que vivem) à beira da sociedade", continua o diretor, que mais uma vez trabalhou ao lado de Marcelo Appezzato, co-diretor de "Guidable".

"Quis trabalhar esses personagens de uma forma bizarra, ao estilo (dos cineastas David) Cronemberg e Gaspar Noé, e não como os personagens marginais da favela e do sertão que são mostrados com frequência no cinema brasileiro. Ninguém aguenta mais (esses tipos de personagens)", conclui Rick.

Mondo Cane no set de filmagem
Mondo Cane acompanhou um dia de filmagem de "Ivan" porque seu escriba foi convidado para fazer uma figuração numa das cenas do filme. Não dá para revelar muito dessa participação sem entregar o desfecho do filme. Esperem para ver "Ivan" até o final deste ano em um festival perto de você.

Na foto acima, os boas-pintas Fausto Salvadori, André Ceccato e Gio Mendes

8.6.10

Adeus, Apolônio!

O comediante Viana Júnior morreu ontem, aos 68 anos, após ter uma insuficiência múltipla de órgãos. Ele sempre será lembrado pelo público como Apolônio, personagem que sofria nas mãos, ou melhor, nos ouvidos da Velha Surda, imortalizada pelo humorista Rony Rios, falecido em 2001.

Viana Júnior precisou se afastar da televisão nos últimos anos por causa de uma ataxia cerebral, doença que impede a pessoa de ter controle sobre seus movimentos musculares. Além da TV, Viana Júnior atuou também em quatro produções do cinema paulista: "Tristeza do Jeca" (1961), "Casinha Pequenina" (1963), "A Árvore dos Sexos" (1977) e "Nem As Enfermeiras Escapam" (1977).





4.6.10

Cavalo faz Alex Prado virar cineasta

Com bastante atraso, Mondo Cane traz uma pequena biografia do diretor Rubens da Silva Prado, a partir de informações levantadas no encontro com o cineasta, que aconteceu na Cinemateca, no dia 30 de abril, após a exibição do filme "Gregório 38".

Rubens da Silva Prado foi pela primeira vez ao cinema com 7 anos de idade. O filme que estava em cartaz era Zorro e o menino ficou impressionado com os cavalos que apareciam na tela. “Na hora pensei: um dia vou fazer um filme montado num cavalo”, sonhou o rapaz, que anos depois iria adotar o pseudônimo Alex Prado para dirigir e estrelar (montado num cavalo), aos 24 anos de idade, o clássico "Gregório 38" em 1969.

Quando deixou a pré-adolescência, Prado decidiu que era hora de ver o seu sonho transformar-se em realidade. O primeiro passo dele era conseguir um trabalho em algum estúdio de cinema, o que ajudariapara ficar mais próximo de seu objetivo. “Procurei alguém que deixasse eu trabalhar num filme. Mas naquela época já havia racismo e diziam que eu era preto e feio. Não desisti da vontade de trabalhar no cinema, mentalizando meu próprio filme”.

Prado disse que conseguiu acompanhar um dia de filmagem de “À meia-noite levarei sua alma”, dirigido em 1963 por José Mojica Marins. Aproveitando que o diretor de fotografia Giorgio Attili estava ausente, o assistente de câmera Nuvem Branca deixou que Prado olhasse no visor da câmera.

“Quando pus o olho no visor e vi o enquadramento, fiquei apaixonado”. Para o azar de Alex Prado, Attili retornou ao set de filmagem e o flagrou bisbilhotando a câmera. “Tira esse olho morfético da câmera. Você vai passar alguma doença”, reclamou o diretor de fotografia, segundo as recordações de Prado.

Constrangido, o jovem retrucou para o experiente diretor de fotografia que um dia ele seria diretor de cinema. “Na época eu tinha 18 anos e o Atilli, 60. Ele deu risada de mim quando eu disse que ia fazer um filme. Você não consegue fazer um filme, ele falou para mim. Aquilo me ofendeu bastante, doeu no coração”.

Continua...

12.5.10

O Diário Secreto de Sady Baby

Uma boa samaritana colocou recentemente no YouTube o programa Superpop batizado de "Diário Secreto de Sady Baby", levado ao ar pela Rede TV no dia 3 de abril de 2006. Foi nesse programa que Sady levantou a ideia de fazer um filme pornô com uma de suas filhas. O projeto foi levado à frente no final de 2007, mas o filme "A Filha do Diretor" acabou apreendido pela Polícia Federal antes de ser lançado, conforme noticiado por Mondo Cane em 17 de julho de 2008. De olho na audiência conquistada pela briga entre Sady Baby e o cantor Ovelhada pela paternidade de um menino de 3 anos, a qual rendeu dois programas no segundo semestre de 2005, o Superpop resolveu chamar o cineasta para mais um debate bizarro intermediado pela apresentadora Luciana Gimenez. Vejam os vídeos abaixo e tirem suas conclusões.










10.5.10

Uma homenagem ao faquir Silki

A exibição do filme “O profeta da fome”, promovida pelo Centro de Memória do Circo na Galeria Olido, no último dia 29, foi uma homenagem ao faquir brasileiro Silki, um artista popular que infelizmente não é conhecido pela grande maioria dos brasileiros.

O Centro de Memória do Circo convidou o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, para falar sobre sua atuação como o faquir Ali Khan no filme dirigido por Maurice Capovilla em 1969. O evento contou com a presença de Rose Lopes, nora de Silki.

Antes de reproduzir o bate-papo ocorrido após a exibição do filme na Galeria Olido, Mondo Cane vai (tentar) contar um pouco da história de Silki. Adelino João da Silva nasceu no Rio Grande do Sul em 1922. “Com 9 anos de idade, ele fugiu de casa para trabalhar no circo”, conta Rose.

No circo, Adelino fica fascinado com as proezas do faquir hindu Arnaldo Weiss, o Silki. O hindu vira mestre do menino, ensinando para ele todas as técnicas do faquirismo. Com a morte do hindu, Adelino adota o nome Silki e prossegue com o legado de seu mestre.

Silki vira um artista da fome, realizando o feito de jejuar por mais de três meses nos anos 50, 60 e 80. O faquir entrava em um receptáculo de vidro, onde ficava deitado sobre uma cama de pregos. Para tornar o espetáculo mais atraente, Silki ficava na companhia de duas serpentes.

As performances de Silki aconteciam nas imediações do Largo do Paissandu, na região central. Maurice Capovilla, quando era repórter do Última Hora, foi fazer uma matéria sobre as peripécias de Silk nos anos 60. Foi aí que Capovilla teve a inspiração para fazer “O profeta da fome”.

O faquir brasileiro morreu em 1998, aos 76 anos, de causas naturais. Segundo Rose, Silki foi tetracampeão mundial de faquirismo e já esteve no Guiness Book por conta de seu feito na cama de pregos. “O Silki tinha outros números. Ele já ficou 12 dias enterrado vivo”, lembra Rose.

A seguir trechos do bate-papo com José Mojica Marins após a exibição de "O profeta da fome" na Galeria Olido:

Um dos maiores faquires do mundo
Eu fui muito amigo do Silki. Guardei com muito carinho a guilhotina que ele usava nas apresentações. A fita (O profeta da fome) foi feita para demonstrar quem realmente é o Silki. Ele foi um dos maiores faquires do mundo.

Laboratório para interpretar Ali Khan
O artista tem que se acostumar a tudo. Fui fazer laboratório (para fazer o papel do Ali Khan), passando por vários circos pequenos para sentir os problemas. (A intenção) foi fazer uma homenagem legal para o Silki.

Um homem que desafiava a morte
Silki fazia coisas de arrepiar. Numa fração de segundos, ele retirava a cabeça da guilhotina. O cabelo dele chegou a ser cortado. Ele era um homem realmente fantástico, supercorajoso, desafiador da morte e realmente um batalhador que a gente tem que sentir orgulho.

Uma salva de palmas
Eu tive a felicidade realmente de ser amigo do Silki. Ele tinha vários trabalhos que realmente abalaram o Brasil. Onde quer que esteja a sua essência, eu quero uma salva de palmas para ele.

"Não desejaria isso para meu pior inimigo"
(A urna do filme) foi inspirada na urna do Silki. Realmente não foi muito legal ficar na cama de pregos. Eu fiquei umas horas lá. O Silki ficou mais de 100 dias. Não era fácil (para mim), via prego de um lado e do outro. Não desejaria isso para meu pior inimigo.

A praga da semana
No final do encontro, José Mojica Marins aproveitou para rogar a tradicional praga de Zé do Caixão. Para ver o vídeo, clique aqui.

Para saber mais sobre o filme "O profeta da fome", veja o dossiê feito pela revista Contracampo clicando aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

3.5.10

"Lilian M, relatório confidencial" sairá em DVD

"Lilian M, relatório confidencial" (1975) é o segundo longa-metragem de Carlos Reichenbach. Depois de dirigir "Corrida em busca do amor" (1972), o cineasta passou a trabalhar exclusivamente com filmes publicitários durante três anos, seguindo conselhos familiares de que deveria se dedicar a um negócio rentável. "Foi um período horroroso, pois eu fazia algo que não gostava, convivia com gente que eu não queria conviver. O lado bom disso foi o aprendizado técnico. Quando comecei a ganhar prêmios publicitários, eu vi que era a hora de ir embora", afirmou o cineasta em encontro com o público da 2ª edição da mostra "Clássicos & raros do nosso cinema", após a exibição de "Lilian M." no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na noite da última quarta-feira. Carlão também anunciou que "Lilian M" sairá em DVD brevemente.

"Lilian M" conta a história de Maria, que depois vira a Lilian do título. Maria (Célia Olga Benvenutti) é uma mulher entediada com a vida no campo. Sua rotina é levar o almoço para o marido José (Caçador Guerreiro), quando ele está cuidando da plantação de chuchu no sítio arrendado pela família, e acompanhar um dos dois filhos até metade do caminho para a escola. À noite, Maria sempre permanece quieta e estática enquanto José faz amor com ela. Sua vida vai sofrer uma grande mudança quando um caixeiro-viajante (Walter Marins) aparece no sítio em busca de água e comida, após percorrer vários quilômetros a pé depois que seu carro sofre um problema mecânico. O caixeiro, um sujeito galhofeiro, seduz a dona de casa entendiada e a convence a partir dali com ele em direção a São Paulo.

No meio da viagem, o carro ocupado pelo casal se envolve em um acidente com um caminhão e apenas Maria sobrevive. Ela parte para a capital paulista, mas vai parar na prisão porque está sem documentos. Uma assistente social promete ajudá-la e consegue para ela um emprego de doméstica na casa do industrial Braga (Benjamin Cattan). Patrão e empregada começam a ter um caso, levando Braga a comprar um apartamento para Maria, onde os dois possam se encontrar com privacidade. Num desses encontros, após Braga comentar que o nome da doméstica é simples, Maria pergunta qual é o nome da mãe do industrial. Após saber que é Lilian, Maria adota o nome, mesmo a contragosto de Braga.

O relacionamento do casal começa a ser ameaçado por Fausto (Washington Lasmar), bailarino com tendências suicidas que é filho de Braga. Uma nova tragédia dá uma guinada na vida de Lilian. Agora ela está trabalhando como massagista e começa a se relacionar com outro industrial, dessa vez um de seus clientes. Hartman (Edward Freund) é um homem neurótico, cujo passatempo é dar tiros com as armas de sua coleção e criar aparelhos de tortura. Ele usa seus aparatos para torturar Lilian, que recebe quantias volumosas para fazer o papel de masoquista em sessões de choques elétricos. Com o dinheiro desses encontros, Lilian compra um terreno do grileiro Vivaldo Lobo (Wilson Ribeiro), outro de seus clientes da casa de massagem.

Após ser enganada pelo grileiro, mesmo após contratar os serviços do detetive Shell Scorpio (José Júlio Spiewak), Lilian vê sua vida mudar radicalmente mais uma vez. Ela começa a namorar com o assaltante Chico (Lee Bujyja), que, prevendo que seus dias estão contados por causa da tuberculose, a entrega aos cuidados da cafetina Maria Antonieta (Thereza Bianchi). No bordel da xará, Maria conhece o funcionário público Gonçalves (Sérgio Hingst), que tem o costume de tomar prostitutas como esposas. Lilian vai morar com Gonçalves, mas terá que conviver também com a irmã dele, a sorumbática Lucivalda (Maracy Mello). Lilian começa a achar sua rotina enfadonha, pois Gonçalves quer que ela permaneça em casa, e decide deixar a cidade para rever a família que abandonara no campo.

Leia uma análise de "Lilian M" aqui.

A seguir trechos do bate-papo de Carlão após a exibição de "Lilian M" no CCBB:

Filme caseiro
Esse foi o meu filme mais caseiro. Só faltou eu botar a cara. De certa maneira botei, pois aparece uma cena minha em "Corrida em busca do Amor" (na sequência em que Lilian e o industrial Braga estão assistindo o primeiro longa de Carlão num cinema). Eu produzi, escrevi, dirigi. Até a câmera é minha. A trilha sonora também. Toquei os discos de 78 rotações que herdei do meu pai e do meu avô. São músicas que eu cresci ouvindo.

Independência econômica
Eu decidi fazer um filme que eu gostaria de assistir. Usei a estrutura da empresa de publicidade da qual eu era sócio. O filme foi feito dentro da Jota Filmes durante o meu tempo livre, usando a sucata do estúdio para construir cenários. (...) Tinha independência econômica, pois eu só tinha que responder a mim mesmo. Quando eu dirigi "O Império do Desejo", o produtor queria saber toda hora se eu tinha filmado mulher pelada.

"Nosso cinema está careta hoje"
(Depois de rever "Lilian M" em cópia restaurada), vejo como o nosso cinema está careta hoje, perdeu a coragem de ousar. Na época, tinha um enfrentamento com a censura, um embate com o cinema oficial e acadêmico. (Em "Lilian M"), quis fazer uma mistura de escolas: tem cinema B, cinema narrativo e cinema japonês. Uma das referências foi (o trabalho do cineasta japonês) Shohei Imamura, especialmente "Mulher Inseto".

Tortura
Eu pensei que a censura ia cair em cima das cenas de tortura. O industrial alemão era uma referência ao Boilesen. Mas a censura não entendeu, ainda bem. O que não desceu pela garganta da censura foi a questão da família.

Lançamento em DVD
"Lilian M" vai ser lançado pela Heco/Lume em julho. O DVD trará vários extras, como uma entrevista de duas horas comigo, que poderia se chamar "Carlos Reichenbach: arquivo confidencial" (risos). (Em seu blog, Carlão informa que outro extra é o curta-metragem inédito "O m da minha mão" (1980), dele e de Jairo Ferreira)

Cena de impacto
Eu tinha 18, 19 anos quando vi no cinema a cena que causou mais impacto em minha vida. Foi em um filme de educação sexual. Aparecia um cara pelado de frente com cancro. A mão de um médico entrava em cena com um bastão dourado incandescente e enfiava na uretra do sujeito. Para mim, a cena de maior impacto do cinema brasileiro está no filme "Sexo & vida". Você quase caía da cadeira (ao ver a cena). Nem Brian de Palma conseguia esse efeito. Depois de mais de 40 anos, descobri que foi meu amigo Rubens Regino quem produziu esse filme quase escondido. Ele viajava o Brasil de Norte a Sul exibindo esse filme. Lotava os cinemas. Hoje é impossível encontrar esse filme.

Em 25 de novembro de 2009, Carlos Reichenbach escreveu em seu blog Olhos Livres um post sobre "Sexo & Vida". Mondo Cane reproduz o texto de Carlão abaixo:

SEXO & VIDA (Henrique Meyer - 1959)
Vi esse "clássico" num cinema da rua Conselheiro Nébias, atraido por um cartaz tosco mas com uma mulher exuberante seminua desenhada por algum cover de Carlos Zéfiro. O filme, que foi liberado e imediatamente interditado pela Censura Federal, foi um dos primeiros documentários de "utilidade pública" produzidos no país. Além de "ensinar" a moçada a arte do prazer, apresentava detalhes acurados das genitálias masculinas e femininas. Lá pelas tantas, quando a rapaziada estava vivamente entusiasmada com as formas generosas das moças desinibidas do documentário: corte sêco para o close de um pênis em estado de repouco. A mão enluvada de branco de um médico entrava em cena, levantava, apertava e apresentava a cabeça do marçapo para a lente, e empurrando o prepúcio para trás, fazia escorrer o pús gonorréico do orifício infeccionado. Na sequência, a mão enluvada introduzia um bastão dourado incandescente no orifício do pênis. Juro que ouvi gente gritando na platéia.
Venhamos e convenhamos, é muito difícil esquecer uma cena destas. Grito como aquele eu só ouvi no cine Iguatemi, anos e anos depois, no final de CARRIE, A ESTRANHA. 40 e tantos anos depois descubro que foi meu amigo Rubens Regino quem produziu o filme e ganhou uma fortuna viajando com as quatro latas de seiscentos metros - debaixo do braço - pelo Brasil afora, exibindo as duas únicas cópias em 35 milímetros existentes, em sessões especiais só para homens, às onze horas da noite. Os suecos e dinamarqueses ficaram famosos por seus "documentários pedagógicos". Aqui no Brasil, SEXO & VIDA me parece um dos casos únicos e pioneiros. Um autêntico filme de "vanguarda", que mereceria ser urgentemente restaurado. Regino contou para mim e Eugênio Puppo que seria impossível recuparar o filme, já que os seus negativos desapareceram, assim que o filme foi interditado para "todo território nacional".

1.5.10

Clássicos e raridades do cinema brasileiro em cópias restauradas

A Cinemateca Brasileira e o Centro Cultural Banco do Brasil promove desde o dia 21 de abril a segunda edição da mostra CLÁSSICOS & RAROS DO NOSSO CINEMA.

Com curadoria da Cinemateca, a programação oferece uma visão diferenciada da história do cinema brasileiro, apresentando filmes dos mais diversos estilos, gêneros e épocas – dos recordistas de bilheteria ao cinema de invenção das décadas de 1960 e 1970, passando por produções destinadas ao grande público – comédias eróticas, terror, policiais e faroestes – muitas dos quais não encontram as telas desde a época de seus lançamentos.

A maioria dos filmes programados será apresentada em cópias novas especialmente confeccionadas para a mostra. Além das sessões, o público terá a oportunidade de conversar, por meio de uma série de encontros, com muitos dos cineastas e artistas envolvidos nas produções escolhidas.


ENCONTRO COM PATRÍCIA SCALVI
01 de maio - Centro Cultural Banco do Brasil

Atriz versátil, de grande talento dramático, Patrícia Scalvi iniciou sua carreira na Boca do Lixo. Fez inúmeras comédias eróticas e trabalhou com os principais nomes do cinema da Boca – Jean Garret, Fauzi Mansur, Ody Fraga, John Doo, Cláudio Cunha, Antônio Meliande, José Miziara, Luiz Castillini, Alfredo Sternheim, entre outros. Trabalhou também em filmes de Walter Hugo Khouri e Carlos Reichenbach. Patrícia Scalvi conversa com o público no próximo sábado, dia 01 de maio, às 17h00, após a projeção da nova cópia 35mm de Ninfas diabólicas, terror erótico de John Doo, que conta com a participação da atriz. O filme será exibido às 15h00.


ENCONTRO COM ALOISIO T. DE CARVALHO
02 de maio - Cinemateca Brasileira

Diretor de comédias de sucesso como Genival é de morte (1956), Maluco por mulher (1957) e O batedor de carteiras, Aloisio T. de Carvalho fala sobre sua trajetória no cinema no domingo dia 02 de maio, às 20h00. O encontro, a ser realizado na Cinemateca Brasileira, é antecedido da projeção, em nova cópia 35mm, do melodrama criminal Preço de um desejo (1952).


ENCONTRO COM CLERY CUNHA
05 de maio - Centro Cultural Banco do Brasil

Diretor de alguns clássicos do cinema popular paulista, como Joelma 23º andar (1980) e O Rei da Boca, Clery Cunha fala sobre sua carreira no cinema, na televisão e no teatro, no dia 05 de maio, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil. A palestra do cineasta é antecedida da exibição, em nova cópia 35mm, de seu filme Os desclassificados (1972), policial baseado em fatos reais, com Hélio Souto, Jesse James e Joana Fomm no elenco. O filme será exibido às 17h00.

O preço dos ingressos varia entre R$ 4 e R$ 8.

Fonte: Cinemateca Brasileira

27.4.10

Zé do Caixão: do circo ao cemitério

O cineasta José Mojica Marins vai participar nesta quinta-feira, dia 29, de um evento promovido pelo Centro de Memória do Circo. Ele não irá falar do circo de horrores de seu personagem Zé do Caixão, mas sim de sua atuação como o faquir Ali Khan no filme “O profeta da fome” (1969), de Maurice Capovilla.

O personagem circense foi inspirado no faquir Silki, que por três vezes (nos anos 50, 60 e 80) jejuando durante meses no Largo do Paissandu, na região central de São Paulo. Mojica conheceu Silki e certamente contará histórias interessantes sobre.

O bate-papo com Mojica acontece após a exibição do filme, prevista para as 18h30. O Cine Olido fica na Avenida São João, ao lado da Galeria do Rock e a poucos metros do local onde o faquir Silki costumava fazer suas apresentações há mais de quatro décadas.

Dois dias depois, às 21h de sábado, Mojica estará caracterizado como Zé do Caixão no Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, onde acontecerá a sessão “Fear(s) of the dark”, coletânea francesa de curtas-metragens de terror em animação. Mojica contará uma história de terror antes da exibição dos curtas.

12.3.10

O Analista de Taras Deliciosas

A paródia e o escracho faziam parte dos filmes produzidos na Boca do Lixo do São Paulo. Uma das principais gozações feitas na época áurea do cinema paulista foi o clássico "Bacalhau", dirigido por Adriano Stuart em 1976. "Bacalhau" ou "Bac's" era a resposta brasileira para o "Tubarão" (Jaws) de Steven Spielberg, filmado um ano antes nos Estados Unidos. No início dos anos 80, as pornochanchadas e o cinema de gênero da Boca foram substituídos pelos filmes de sexo explícito. Mas o esculacho não foi abandonado na fase ginecológica do nosso cinema, como prova "O Analista de Taras Deliciosas", a versão pornô do seriado "A Ilha da Fantasia".

"O Analista de Taras Deliciosas" foi dirigido por Fauzi Mansur em 1984, justamente o último ano de produção do seriado americano (1978/1984) com os protagonistas Ricardo Montalban e Hervé Villechaize. O primeiro fazia o papel do Sr. Roarke, o anfitrião da ilha paradisíaca onde os visitantes podiam realizar suas fantasias. Hervé interpretava Tattoo, o anão que era o braço direito do Sr. Roarke. Em "O Analista de Taras Deliciosas" eles são substituídos pelos atores Alan Fontaine e Chumbinho. Quando ambos aparecem na primeira cena da obra pornô trajando ternos brancos, o espectador já percebe a fonte de inspiração de Izuaf Rusnam (o nome do diretor aparece creditado de trás para a frente).

No início de cada episódio de "A Ilha da Fantasia", Tatto aparecia tocando um sino e gritando "olha o avião" para avisar o Sr. Roarke que novos visitantes estavam chegando. Com a peculiar falta de recursos das produções da Boca, os visitantes chegam num ônibus de turismo mesmo. Só faltou colocar o Chumbinho berrando "olha o busão". O mais famoso anão do cinema brasileiro, aqui no papel do mordomo Ling, se limita apenas a avisar o Dr. Moss (Alan Fontaine) de que "está tudo pronto para receber os novos clientes". A ilha paradisíaca é substituída por um clínica que funciona numa espécie de hotel fazenda.

Dr. Moss reúne os auxiliares e explica que todos eles devem se empenhar para resolver os desejos dos visitantes. Uma ninfomaníaca quer transar com um vampiro. Outra tem prazer em enfiar objetos estranhos na vagina. Um cinéfilo pretende ter uma noite de prazer com a atriz Elizabeh Taylor. Um pervertido sonha em ir para a cama com uma freira. Outro quer representar o pistoleiro Billy the Kid enquanto faz sexo. Uma senhora casada quer ser raptada por homens bem dotados. A clientela é formada ainda por um casal de sadomasoquistas, um homem que tem prazer em ver a mulher nas mãos de outro e ainda um aleijado impotente.

No meio dessa turma toda estão perdidos o sobrinho do Dr. Moss e a mulher dele, que foram apenas curtir um final de semana no local. O Dr. Moss alerta sua equipe para que o casal não descubra o real propósito da clínica. O sobrinho recebe a orientação do tio de que nunca abandonem o quarto, principalmente à noite, pois os pacientes podem se tornar perigosos. Claro que o casal fica entediado e não segue a orientação do Dr. Moss, se envolvendo em situações cômicas na clínica. As taras da clientela podem não ser deliciosas como sugere o título, mas são hilárias por conta dos diálogos do roteiro de Wilson Vaz e Waldir Kopeski.

Direção: Izuaf Rusnam (pseudônimo de Fauzi Mansur). Elenco: Alan Fontaine, Chumbinho, Oásis Minitti, Cléo Rodrigues, Walter Gabarron, Eliane Gabarron, Paula Sanches, Antônio Rody, Carlos Nascimento, Marthus Mathias, Oswaldo Cirilo, Nardo Sabatini, Saipy Marquesa, Adauto Salomão, Tereza Rodrigues, Nelson Ramos, Betty Muriel, Vania Bonier, Michele Analidei, Edna Ferreira, Ronaldo Amaral, Carlos Farah, J.Brito, Renata Close, Cristiane Silva, Telma Xavier, Meire Belacosa e Pedro Terra. Duração: 1h24.

28.1.10

Bar exibe clássico pornô da Boca

O bar Astronete exibirá hoje "Um Pistoleiro Chamado Papaco", um dos mais hilários filmes da fase pornô da Boca do Lixo de São Paulo. Uma pena que não posso ir, pois estarei trabalhado. Daqui alguns dias, publico uma resenha dessa obra-prima. As informações abaixo foram retiradas do site do Astronete. E que o Astronete dê espaço a outras produções explícitas e geniais da Boca do Lixo, como Rabo 1 (de José Miziara), O Analista de Taras Deliciosas (Fauzi Mansur), Oh, Rebuceteio (Cláudio Cunha) e Emoções Sexuais de um Jegue (Sady Baby), entre vários outros títulos.

Nesta quinta-feira, dia 28 de janeiro: UM PISTOLEIRO CHAMADO PAPACO (1986) / Diretor: MÁRIO VAZ FILHO / 823.553 espectadores

Para muitos, a obra-prima definitiva da Boca do Lixo. Paródia de filmes de “western spaghetti” com muito sexo explícito. Papaco (pronuncia-se “PAPACU”) vaga pelo Oeste arrastando um caixão cheio de mercadorias preciosas para serem negociadas com uma gangue de bandidos da cidade de Santa Cruz das Almas. No caminho, muitos tentam roubá-lo, mas são impiedosamente mortos pelo intrépido pistoleiro que, mesmo dizendo que “seu negócio é outro”, transa com todas as mulheres do elenco. Tudo vai indo muito bem até que Big Boy (o lendário Anão Chumbinho) decide enfrentar Papaco. No papel título, Fernando Benini, conhecido das pegadinhas do Sílvio Santos, em atuação colossal. No elenco, ainda as lendárias Márcia Ferro (como a mocinha Linda) e Camila Gordon (famosa por contracenar com animais em alguns filmes da boca) e o grande Satã, como o pistoleiro Sartana. SESSÃO COM A PRESENÇA DO DIRETOR. Após o filme haverá debate e homenagem ao genial MÁRIO VAZ FILHO, com mediação de Murillo Mathias, o cuRRador desta retrospectiva.

Info da noite:

Abre 21h, Filme 22h, Entrada gratuita

Promoção Cinetrash:


Chope Guinness em preço de happy hour a noite inteira: pint $14, meio-pint $7

Astronete
Rua Matias Aires 183
Consolação, São Paulo
Tel (011) 3151-4568