Mondo Cane traz a partir de hoje uma pequena retrospectiva dos casos curiosos acompanhados pelo blog e que, por falta de tempo, não foram postados aqui. Por conta desse caso, alguns membros da comunidade judaica passaram a treinar kung-fu para se defender de larápios, como mostra a foto acima.
Depois de roubar a casa de um rabino de 67 anos na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, o assaltante Reinaldo Rodrigues, de 30 anos, tentou se passar por judeu para não ser preso pela Polícia Militar. Ele chegou no imóvel da vítima trajando terno e gravata e deixou o local com o chapéu do rabino, mas foi desmascarado porque não se parecia com um judeu ortodoxo. Dois comparsas de Rodrigues conseguiram fugir. Com o falso judeu foi apreendida uma pistola de brinquedo e a maior parte do material roubado, entre dinheiro, talões de cheques e um computador.
Os três ladrões dominaram o rabino A.A.I. (que pediu para não ser identificado) no momento em que ele chegava em casa, na noite de 11 de fevereiro de 2008. Além da pistola de brinquedo, o trio estava armado com dois revólveres. Um dos bandidos deu uma coronhada na nuca do rabino, que teve as outras duas armas apontadas para a cabeça, uma de cada lado. Os assaltantes amarraram as mãos da vítima com um pedaço de pano e a obrigaram a ficar com a cabeça abaixada na direção de uma mesa. Os criminosos passaram a separar os pertences do rabino e colocá-los dentro de uma mala e de uma mochila.
Quase meia hora depois, o rabino disse que estava aguardando visita de amigos judeus, que iriam participar de uma reunião na casa dele, e pediu para os criminosos irem embora, caso não quisessem ser surpreendidos. Um dos bandidos ordenou que a vítima ligasse para um de seus amigos e pedisse para que ninguém se aproximasse da casa. O rabino fez duas ligações para um comerciante de 34 anos, que também não quis se identificar. Na primeira, a vítima falou: "Tem gente na minha casa. Eles não querem sair antes que vocês se afastem". O amigo do rabino, que já estava perto do local, ficou sem entender nada.
A segunda ligação ocorreu depois que os criminosos viram o carro do amigo da vítima sendo estacionado perto do imóvel. "Seu carro está aqui em frente. Tira o carro que os caras não querem sair", falou o rabino para o comerciante. Depois dessa frase, dita em português, o rabino falou "me ajuda" em hebraico. "No começo não pensei que pudesse ser um assalto, mas achei estranho porque o rabino nunca fala em português comigo", disse o comerciante, que preferiu ligar para a Polícia Militar por precaução e alertar sobre um roubo em andamento.
Dois policiais militares em motos chegaram no local em poucos minutos. Nessa hora, o assaltante tinha acabado de sair da casa, carregando uma mala na mão e usando o chapéu do rabino. "Ele transpirava muito, mostrando que estava nervoso. Isso chamou nossa atenção", disse um sargento do 2º Batalhão de Choque da PM. Durante a revista, os policiais encontraram cerca de US$ 200 dentro da cueca do assaltante. "O criminoso disse que era judeu, mas não tinha nenhum sotaque", observou Destro. O comerciante apareceu e já desmascarou Rodrigues. "O ladrão tinha uma barba rala. Só judeus com barba longa podem usar esse chapéu", explicou o amigo do rabino.
Dentro da mala foram encontrados oito relógios de bolso, um monitor de computador LCD, dois telefones sem fio, cerca de 20 talões de cheque, R$ 3 mil, 15 euros, 20 francos, 3 mil liras e 25 pesos argentinos. Os dois comparsas de Rodrigues conseguiram fugir num táxi, levando uma mochila com alguns objetos, entre eles um computador portátil. Segundo a polícia, Rodrigues tem extensa ficha criminal, com cerca de cinco metros e passagens por roubos, furtos e até homicídios, já cumpriu 11 anos de cadeia e estava foragido da justiça.
Amigos do rabino desconfiam da participação de um motorista que trabalhou na casa durante sete anos e foi mandado embora há cerca de dois meses após roubar dinheiro. Segundo o comerciante judeu que ligou para a PM, o rabino relatou que um dos criminosos deixou essa suspeita no ar, ao afirmar a seguinte frase durante o assalto: "Você sabe quem mandou a gente aqui". Um homem branco e outro negro conseguiram fugir de táxi. Eles não trajavam terno e gravata como Rodrigues. O caso foi registrado no 78º Distrito Policial (Jardins).
No dia seguinte, o sargento foi procurado pelos jornalões de São Paulo e inventou que tinha desmascarado o falso judeu por ser um profundo conhecedor do judaísmo. Ele esqueceu de mencionar que contou com a ajuda do amigo do rabino, que desconfiou da barba rala do criminoso. "Eu nunca ia saber dessa diferença de barba. Para mim, judeu é tudo igual", confidenciou o sargento para Mondo Cane, antes de se passar por um especialista em judaísmo para outros veículos de comunicação.
5.1.09
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