Certa vez num quarto de hotel barato, no centro de São Paulo, após uma bela de uma foda, uma GP (garota de programa) do Teatro Orion contou-me uma história de arrepiar. Disse ela ter sido vitíma de assombração numa noite em que dormira nos aposentos daquele velho e sinistro teatro.
Segundo a garota, naquela noite ela resolveu que dormiria lá mesmo já que morava longe e não tinha muita disposição para dirigir. Esperou que todos fossem embora e que o teatro fechasse.
Ela foi até um quarto instalado nos fundos do teatro, longe da vista do público, ficando totalmente solitária naquele local escuro e sombrio. Na época ainda não havia as suítes recém-construídas que existem hoje.
Para se fazer programas, os clientes tinham que sair com a garota para um hotel nas redondezas, geralmente uma espelunca qualquer.
Portanto, aquele era o único quarto disponível que havia para ela dormir no teatro. Tratava-se, na verdade, de um cubículo com uma cama improvisada, instalado dentro do camarim das garotas.
A GP tratou logo de se acomodar. No quarto não havia TV, então ela deitou-se, apagou a luz e esperou o sono chegar. Já passava da meia-noite quando ela conseguiu finalmente dormir. Na calada da noite, ela despertou pensando ter ouvido alguém tentando abrir a porta do quarto que estava trancada.
Ainda sonolenta, ela pensou que tivesse tido apenas uma falsa impressão e voltou a dormir. Longe dos ruídos noturnos do agito da Rua Aurora e redondezas, a garota repousava sob um total silêncio, quase sepulcral. Tivera um dia agitado, bebera além da conta e fizera bons programas. Meteu bastante.
Mas um mal súbito a acordou no meio da noite. Assustada, agora ela tinha a certeza que não estava sozinha no quarto escuro. A garota podia perceber um vulto a observá-la. Talvez fosse um sonho ou um pesadelo, mas bastou alguns segundos para que a GP tivesse a plena certeza de que estava acordada e de que a situação era real: tinha alguém no quarto com ela.
Seja lá quem fosse, o vulto abriu a porta. Ela pode ouvir os passos. Com o coração batendo forte e totalmente paralisada, a garota não ouviu mais nada. Nem sequer os passos da pessoa nas escadas de metal, único local de acesso para quem quer sair dali e dirigir-se para a parte de fora dos bastidores do Teatro Orion.
Não era possível que essa pessoa não tivesse saído dali sem passar pelas escadas sem fazer barulho. Apavorada, a garota não conseguiu mais dormir e tampouco adquirir coragem para levantar da cama e verificar o que estava acontecendo.
Deitada em seu leito de horror, a GP delirava, quando lhe ocorreu a lembrança do triste episódio da garota que morrera no palco durante o show que fazia. Para pavor de todos que estavam no teatro naquele dia. Já seminua, a garota teve um ataque súbito e caiu estirada no chão. Foi socorrida e levada, do jeito que estava, por uma ambulância para o hospital.
Mas já era tarde demais para a garota. Morrera a caminho do hospital ou quem sabe já estivesse morta quando caíra desfalecida e nua sobre o palco, no último show de strip de sua insignificante vida. Dizem que essa infeliz puta fora vítima de uma cirurgia plástica mal feita de implante de silicone nos seios.
Na época era moda ter peitões siliconados. E quase que uma obrigação para as putas também tê-los. Mas como as GPs do Orion gozavam de poucos recursos, então elas procuravam qualquer carniceiro que lhes deixasse os peitos mais vistosos para deleite dos tarados de plantão. cobrando um valor acessível. No caso dessa pobre infeliz, o barato lhe saiu caro e acabou lhe custando a vida.
A GP que decidiu dormir no Orion começou a sentir calafrios ao lembrar das histórias que ouvira de outras garotas, que juravam ter visto a falecida vagando pelos bastidores do teatro no intervalo dos shows. Com a mente tomado por essas lembrancas terríveis, ela passou o resto da noite em claro.
Ficou ali acordada até o amanhecer. Quando, finalmente, viu a claridade do dia, a GP tomou coragem e saiu de seu quarto. Com apenas a cabeça para fora do quarto, de espreita atrás da porta, ela olhou por todo o estreito corredor da parede final até as escadas de metal e nada viu de estranho. Vestiu-se e foi ao banheiro onde não havia niguém. Ela estava completamente sozinha.
Seria essa história verdadeira? Ou apenas um delírio macabro?
Bom, claro que o universo das garotas de programa é extremamente fantasioso e feito de mentiras. Mas dois amigos meus, que se dizem sensitivos ou algo assim, juram de pé junto que o Teatro Orion está tomado por energias negativas. Seja lá o que for isso. Inclusive, um deles, teve um surto de loucura certa vez, aprontando os diabos lá dentro, jogando lata de cerveja no chão, fumando onde não podia fumar e beijando a testa do segurança até ser retirado à força do local. Ensandecido, ele bradava: "Eu sou o Renato Mendes, tirem as mãos de cima de mim. Eu sou o Renato Mendes. Vocês me pagam, eu tenho um laptop". Sinistro!
Para mim, o Teatro Orion não traz mau agouro algum, muito pelo contrário. Sinto uma paz interior intensa quando estou naquele recinto. O Orion é para mim um santuário (ops), onde posso descansar e orar em paz, em nome da santa putaria, longe da inquisição do dia-a-dia e das assombrações do cotidiano maçante.
A única assombração que vejo ali são as mulheres feias e pavorosas que existem aos montes. Verdadeiras filhotes de cruz-credo. E isso não é pouca coisa.
(Texto de Baby Doc, matemático e pornófilo, em colaboração exclusiva para Mondo Cane. A arte que ilustra esse post é do desenhista Fulvio Pacheco)
15.7.10
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2 comentários:
Que broxante uma puta fantasma!
Boa semana!
LEO
Contra a homofobia: defenda a cidadania!
www.seximaginarium.blogspot.com
Histórias de criaturas sobrenaturais fazem mesmo parte do imaginário da prostituição. Já ouvi histórias parecidas em outros ambientes. E até o Paulo Leminski escreveu um conto de terror em quadrinhos ilustrado pelo Shimamoto que era ambientado num bordel.
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