30.10.09

Sobre loira e lobos

Os jornais de hoje repercutem a história da loira que foi chamada de puta e ameaçada por centenas de alunos dentro da Universidade Bandeirantes (Uniban), campus São Bernardo, no ABC, Grande São Paulo, porque estava usando um microvestido. Mas o fato foi divulgado dois dias antes pelo blog do mano Fausto, responsável também pela melhor análise do caso, conforme observou o jornalista Marcelo Soares em seu blog.

Para quem saiu do planeta e não sabe do que estamos falando, segue abaixo a matéria "Taleban na faculdade" (ótimo título), publicada hoje na Folha de S.Paulo. Notem que foi um bando de recalcadas quem deu início à confusão ao intimidar a voluptuosa loira no banheiro. Para a vítima, o grupo de garotas agiu por inveja e incitou os garotos a participarem da balbúrdia. Admira saber que as formas da loira também tenham causado tanta repulsa aos rapazes da faculdade. Por isso, esses caras já foram batizados de "unibambis" em alguns fóruns na internet.

Taleban na faculdade
Em universidade de São Bernardo, multidão de alunos persegue colega de microvestido, que só consegue sair escoltada pela PM

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA

Pu-taaa! Pu-taaa! Pu-taaa! Cerca de 700 alunos da Uniban, Universidade Bandeirante de São Paulo, campus de São Bernardo, pararam as aulas do noturno para perseguir, xingar, tocar, fotografar, ameaçar de estupro, cuspir. Tudo isso contra uma aluna do primeiro ano do curso de turismo, 20 anos, 1,70 metro, cabelos loiríssimos esticados e olhos verdes, que compareceu à escola em um microvestido rosa-choque, pernas nuas com pelinhos oxigenados à vista, salto 15, maquiagem de balada, na quinta-feira da semana passada (22).
Michele Vedras (nome fictício inventado por ela em um blog) só conseguiu sair da escola sob escolta de cinco soldados da PM, duas mulheres inclusive, que tiveram de usar spray de pimenta para conter os mais exaltados e abrir caminho entre a massa. Vídeos do ataque circulam pela rede, um deles intitulado "A Puta da Uniban".
O microvestido rosa-choque de Michele, naquele dia, andou de ônibus -no total, a moça gasta duas horas para ir e voltar da faculdade. Mereceu elogios -"Gostosa!"- durante o trajeto. O mesmo vestido foi usado na festa de aniversário da sobrinha de Michele, uma festinha em família. Mas, na Uniban, onde a moça chegou às 19h45, o tempo esquentou.
Estudantes de outros cursos que não os de turismo, entrevistados pela Folha anteontem, criticaram Michele. "Ela veio provocar." "Ela andava rebolando." "Deixou cair uma carteira, de propósito, só para ter de se agachar." "Aquilo não é roupa de vir à faculdade."
Estudantes do curso de turismo ouvidos pela Folha defenderam a colega. "Ela sempre anda assim, de um jeito ousado." "Ela faz esse estilo mulherão mesmo." "Ela é avantajada, sim. Mulheres com a autoestima lá embaixo morrem de inveja." "É uma vergonha para a escola ter alunos assim. Parece que esses caras nunca viram uma mulher."
Desfile na rampa
O prédio da faculdade de turismo tem um átrio central cercado de rampas por todos os lados. Quando Michele chegou à escola e começou a subir uma rampa, os rapazes ficaram paralisados. Alguns conseguiram se mexer. Mas para ir ao prédio vizinho, chamar colegas para ver também. A pequena multidão, até aí, tinha cerca de 200 pessoas, segundo um estudante. Muitos assobiavam.
Michele achou melhor sair da rampa no segundo andar e usar a escada para chegar ao terceiro, onde fica a classe dela.
As aulas começaram. Às 20h30, a jovem resolveu ir ao banheiro. Uma colega de classe fez questão de acompanhá-la, receando algum problema. "Eu estava com receio, mas nem podia imaginar o que viria daí para frente", disse Kelly Andrezzi dos Santos, 19. De repente, algo como 20 garotas de outros cursos invadiram o banheiro. Queriam obrigar Michele a vestir uma calça, xingavam-na, diziam que ela estava provocando, "causando".
A confusão foi a senha. Rapazes saíam de suas salas e se aglomeravam na porta do banheiro das mulheres. O professor Rubens, de Desenvolvimento Gerencial, que dava aula para a classe de Michele, teve de sair da sala em operação de resgate. Foi acompanhado por colegas de turma.
"A gente teve de distribuir tapas nas mãos dos meninos, que tentavam enfiar o aparelho celular no meio das pernas [da Michele], para tirar fotos", lembra a amiga Amanda de Sousa Augusto, 19, aluna da mesma classe. "Foi uma agressão, uma injustiça. A Michele é uma superboa pessoa."
A turma do professor Rubens voltou para a sala e se trancou nela. A essa altura, a maioria dos garotos dos dois prédios da Uniban já tinha saído de suas classes. Eles revezavam-se no visor da porta, pulavam para alcançar uma janela mais alta.
O coordenador de curso subiu até a classe sitiada. Pediu que Michele fosse embora. Que ela vestisse o jaleco dele ao sair. E foi-se. Michele não quis sair.
O namorado ia buscá-la no fim do período de aulas -iriam juntos a uma festa.
Presos na sala de aula, a turma e o professor ouviam os estudantes lá fora gritando. "Solta ela, professor! Deixa pra nós." "Vamos estuprar!" Colegas de classe colaram folhas de fichário por dentro da janela, para evitar os olhares.
A essa altura, Michele chorava, desmanchando a maquiagem. Um chute na porta, a maçaneta voou. Machucou o professor. Três seguranças se apresentaram na sala. O mais graduado dirigiu-se à moça: "Bonito, né... Vir à faculdade dessa maneira". Ele queria que Michele saísse naquele momento, mas a representante de classe não permitiu. Achava que a colega corria risco. Chamou o 190.
"Seus coxinhas [PMs], vão levar a gostosa?", um aluno uivou no ouvido de A., um dos policiais que atendeu ao chamado.
Quando Michele passou, escoltada, na frente da sala dos professores, uma docente fez questão de sair. Com uma careta, perguntou: "É essa a fulana?".
Na catraca da escola, sempre sob a escolta policial, Michele viu entre os que a agrediam uma menina com o celular na mão, fotografando a sua vergonha: "Ela pega o ônibus comigo todo dia. Sempre quietinha.
Mas naquele dia, ela atacava irada: pu-ta, pu-ta. Não entendi por que tanta raiva".
Filha de uma dona de casa e de um supervisor de serviços, ambos apenas o primário completo, Michele tem um irmão de 32 e duas irmãs (30 e 16). O pai é quem paga os R$ 310 de mensalidade. Mora em um bairro popular em Diadema. Já trabalhou em um mercadinho.
Michele não pretende abandonar a faculdade. Hoje, ela comparece pela primeira vez à Uniban, desde o episódio, para depor em uma sindicância que apura o ocorrido. A jovem tem ficado reclusa. "Sempre ando arrumada, salto alto e maquiada. É assim que me vejo. É assim que eu sou. Mas, desde aquela quinta-feira, não consigo mais ser quem eu era. Só me visto de calça e camiseta e a maquiagem ficou na gaveta", disse.

27.10.09

Atriz global defende pornochanchadas

Os diálogos escassos podem dar a falsa impressão de que Yolanda, mãe de Ariane (Christine Fernandes), é novata em novelas. Ledo engano. A intérprete da personagem da novela "Viver a Vida" é Sandra Barsotti, protagonista de sucessos na TV na década de 70, e que, surpreendentemente, ficou 33 anos afastada do horário nobre.

"Manter-se na TV depende de muita disposição. É um tal de ligar para diretor, ligar para autor...", justifica a atriz, que assumiu a personagem a convite do produtor de elenco Luiz Antonio Rocha. "Ele trabalhava na Record quando me chamou para trabalhar lá. Só não pude aceitar porque movia um processo contra a emissora", afirma, referindo-se à ação por uso indevido de imagem que ainda corre na Justiça.

Segundo Sandra , o programa "Fala que eu te escuto", da Igreja Universal, utilizou-se de cenas suas na novela "Velas de sangue" (Record, 1997) para tratar sobre exorcismo. "Não me arrependi. O que eles fizeram foi um desrespeito". Sandra admite que esse temperamento pode ter prejudicado sua carreira. Por conta disso, fez alguns "inimigos".

Walter Avancini, diretor morto em 2001, foi um deles. "Trabalhava em Portugal quando ele me convidou para fazer uma novela na Tupi. Me convenceu a voltar ao oferecer um salário três vezes maior do que eu ganhava quando havia deixado o país. Só omitiu que a inflação tinha camuflado esse aumento. Fiquei possessa".

Aos 57 anos, Sandra defende as pornochanchadas, gênero que a lançou ao estrelato. Foi pelo sucesso dela em filmes do tipo que foi chamada para estrelar "O Casarão" (1976), clássico da teledramaturgia brasileira. "Hoje qualquer novela das seis tem cenas mais pesadas", compara a atriz, que nota certa diferença na maneira como se faz TV hoje. "É engraçado como os jovens cumprem um ritual para entrar em cena. Fazem treino de voz, vários exercícios... Antes era tudo mais simples", diverte-se.

(Matéria de Juliana Alencar publicada no jornal Diário de S.Paulo em 20/10/2009)

Clique aqui para conferir a filmografia de Sandra Barsotti e aqui para ver um blog dedicado à atriz.