28.11.09

Entrevista histórica 4: Walter Gabarron

Mondo Cane publica hoje a quarta e última parte da entrevista com o ator Walter Gabarron, um dos mais atuantes da fase explícita do cinema da Boca do Lixo de São Paulo. Veja também a primeira, a segunda e a terceira partes do bate-papo entre Gabarron e o escriba deste blog, que aconteceu no Teatro Orion, na Rua Aurora, República, região central de São Paulo, no começo de 1997. Na época da entrevista Walter estava prestes a completar 40 anos. Um câncer raro (Linfoma de Hodgkin) tirou a vida dele em 2005, aos 47 anos. Uma das últimas matérias feitas com Gabarron saiu na revista Isto É em outubro de 1996, de onde foi retirada a foto ao lado. Veja essa matéria clicando aqui.

Você encerrou suas atividades como ator pornô quando?
Em 1995.

Depois de dois anos sem atuar, você sente vontade de retornar à carreira, esquecendo o lado financeiro? Ainda sente vocação para a coisa?
Como ator sim. De repente montar uma peça de teatro ou mesmo fazer um filme normal. Mas sem sexo explícito.

Você já filmou com o José Mojica Marins?
Já. Filmei o "48 Horas de Sexo Ardente" e a "Menina do Sexo Diabólico", que não foi direção dele, mas ele participou.

E nos filmes do Mojica que não eram de sexo explícito?
Eu participei de um antigo, que passou recentemente na TV (Bandeirantes), "Perversão". Mas era uma coisa bem pequena, papelzinho pequenininho, pois eu estava começando. Mas o Mojica é uma pessoa legal.

E como era o trabalho com o Mojica? Ele era muito exigente?
O Mojica é uma criança. É super amigo, super legal. Aquela ideia de diabólico não existe, é só fachada, é imagem. Ele é uma pessoa normal.

Você é dono do Teatro Orion ou trabalha aqui?
Sou funcionário. Eu fazia erótico. Entrei aqui em 1992. Antes disso, trabalhei no Teatro Márcia Ferro, em vários teatros. Vim para cá em 92, na época era comédia erótica. Era um trabalho de ator e juntava o sexo explícito. Era um complemento. Depois o público perdeu vontade de assistir peça, só queriam putaria mesmo. Aí mudou de dono e montaram striptease com sexo explícito. Continuei, saí e fiquei um ano fora. Voltei, tava só no show e no sexo explícito. Fiz novamente. Em agosto do ano passado, a Prefeitura, a polícia, não entendi direito até agora, cortaram o sexo explícito. Aí eu fiquei só coordenando o show (desde 1995, quando parou de atuar como ator pornô).

E o que alegaram para acabar com os shows de sexo explícito?
Pelo que eu sei, não tenho certeza, alegaram que é atentado ao pudor. Que mostrar o pênis em cena é mostrar objeto obsceno. Acharam que é imoral. Baseado nisso, eles cortaram (o espetáculo, não o pênis).

Nesta semana, a atriz caribenha Jasmin St Claire visitou o Brasil. Ela transou com 300 homens em um dia durante a gravação de um filme. Alguma atriz brasileira já tentou alguma ousadia parecida?
Trezentas relações em dez horas eu acho absurdo, impossível. Isso é papo, não existe isso. Agora até 20 por dia eu fazia no teatro Studio, na época da inauguração. Eram cinco sessões, em cada uma dela tinha quatro cenas de sexo explícito. Então eram 20 por dia, em seis ou oito horas. Mas 300 eu acho mentira.

E quais as melhores atrizes do nosso pornô?
Considero boas atrizes a Márcia Ferro, a Eliana na época que ela fazia, a Andrea Pucci, que é argentina, e a Sandra Midori.

A Malu Bailo já trabalhou em teatros eróticos, mas nega que fizesse sexo explícito, que era tudo simulação. É verdade?
Prefiro não falar (risos).

E esse pessoal antigo, tem como entrar em contato com algum deles?
O Oásis (Minitti) eu sei que está com uma casa de shows na Avenida São Jorge, onde era o Primo Saci, parece... A Sandra Midori casou e parou. A Márcia Ferro parou com tudo depois da morte do marido (Osvaldo Cirilo, que ela nega ter sido esposa dele). Andrea Pucci também parou. Porque o pessoal envelhece, né? Principalmente a mulher. Então, elas param.

Você está com que idade?
Farei 40 anos em maio.

14.11.09

O horror de Fauzi Mansur

Depois de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, Fauzi Mansur foi um dos cineastas brasileiros que voltaram sua atenção ao gênero horror (na foto ao lado, de propriedade da revista Quem e tirada no ano passado, Mansur aparece entre as atrizes Nívea Stelmann e Bárbara Borges). Por esse motivo, o 4º Festival Curta Fantástico, o CineFantasy, realiza amanhã uma sessão especial para homenagear Mansur, um dos diretores que mais realizou filmes na Boca do Lixo de São Paulo. Serão exibidos três filmes do diretor e produtor, a partir das 15h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Rua Álvares Penteado, 112, Sé, região central de São Paulo.

Belas e Corrompidas (1977): Uma bela mulher começa a praticar assassinatos em série inspirada no caso de Landru, um serial-killer francês, com a ajuda de sua capacha horrível e corcunda, levam as vítimas a beira da loucura misturando sadismo, erotismo e morbidez gótica ritualística, logo passam a ser alvo de perseguição policia devido aos excêntricos eventos. Este filme contém cenas chocantes. Com Eudósia Acuña, Carmem Angélica, Carlos Bucka, Maria Isabel de Lizandra, Valéria D'Ellia, Paulo Domingues, Abrahão Farc, Márcia Fraga, Edward Freund, Heitor Gaiotti, Ênio Gonçalves, Stella Maia, Érika Maracini, Marthus Mathias.

Ritual Macabro (1990): Raro e valioso livro contendo informações sobre antigos rituais indígenas de pajelança é roubado por integrantes de grupo de teatro. Eles planejam encenar uma peça baseada nos textos, mas durante os ensaios um dos atores é possuído e começa a matar os demais, enquanto seu corpo se deteriora. Com Olair Coan, Carina Palatinik.

Atração Satânica (1990): Num balneário no estado do Rio de Janeiro, a radialista Fernanda apresenta seu programa com histórias de um assassino que extrai o sangue de suas vítimas, todas mulheres, para ressuscitar sua irmã morta. O que Fernanda não sabe é que sua história está realmente acontecendo, e tais assassinatos têm origem num culto de magia negra realizado 14 anos atrás, em que um casal de crianças foi entregue ao demônio. Enquanto tem um caso com o oficial de Marinha Lionel, Fernanda continua com seu programa, e as novas mortes levam a polícia a torná-la suspeita. Com Gabriela Toscano, Ênio Gonçalves, Emília Maser, André Loureiro, Olair Coan, Cláudia Alencar, Cláudio Curi, Antoine Rovis, Vera Zimmerman.

2.11.09

Entrevista histórica 3: Walter Gabarron

Mondo Cane publica hoje a terceira parte da entrevista com o ator Walter Gabarron, um dos mais atuantes da fase explícita do cinema da Boca do Lixo de São Paulo. Veja também a primeira e a segunda partes do bate-papo entre Gabarron e o escriba deste blog.

Você tem algum fato marcante ao longo de sua carreira que gostaria de comentar?
Em cinema o que eu posso dizer é que só não fui passivo. Já fiz cena com travesti, com homem, com mulher. Então eu já fiz de tudo. Tudo o que você possa imaginar. Sexo eu já fiz praticamente tudo. Só não dei o..., né, porque o resto...

A visão de uma pessoa que faz sexo profissionalmente muda em relação ao sexo na vida pessoal dela? Fazer sexo torna-se uma coisa sem graça?
Acaba. Você não vê mais graça em nada. Uma pessoa "normal" automaticamente se excita quando vê uma mulher nua, uma coisa natural. Para mim, ver uma mulher nua, às vezes é como não estar vendo nada. A menos que seja uma coisa que eu não vi na vida. E é difícil. Todas (as mulheres) são iguais.

E depende da circunstância também.
O cara paga e entra no teatro. Quando vê a menina pelada, ele já está excitado. No meu caso não, é preciso muito mais para isso. Você fica muito frio. Não só o homem, como a mulher. A mulher que faz sexo explícito se torna muito fria. Ela coloca outros valores, o sexo fica em 10º plano.

Você tem filhos?
Um casal. Minha filha vai fazer 18 anos e o menino, 16 (hoje, os filhos de Walter são 12 anos mais velhos).

Você continua casado com a Eliana?
Estou desquitado, separação consensual. Mas a gente se dá super bem. Moro com meus filhos. Eles hoje não aceitam mais que eu faça (sexo explícito). Mas o que está feito, está feito. Eles não gostam quando estão comigo na rua e de repente alguém me reconhece. Eles ficam meio constrangidos. Outro dia passei com meu filho na Avenida Ipiranga (Centro de São Paulo) e tinha dois gays lá, que disseram: "Olha o carinha do cinema. Gostoso! Pauzudo!". Sabe aquela coisa bem de viado? E o X. (diz o nome do filho) do lado, ele ficou super sem graça. A X. (diz o nome da filha) nem fala, ela não gosta nem que o namorado saiba. Outro dia em casa, ele estava lá e passei um filme meu, não pornô, para ele ver. Depois que ele foi embora, a X. chamou minha atenção porque ela não quer que ele saiba que eu sou deste meio. É um preconceito por parte dela. O X. já nem tanto. Mas ela não gosta nem um pouco.

Talvez por ele ser homem.
Acho que sim, porque ele está doido para fazer 18 anos e vir aqui (no Teatro Orion).

Soube por meio de uma coluna do Arnaldo Jabor que a sua ex-esposa virou religiosa.
Saiu na coluna do jornal falando a respeito dela quando fez o filme Cléopatra. E depois, essa mesma citação é publicada no livro dele. Ela parou mesmo, virou Testemunha de Jeová, não quer nem saber disso. Aliás, ela tem nojo disso.

Faz tempo que ela se converteu?
Foi nas filmagens de Cléopatra. Exatamente 11 anos (essa entrevista com Gabarron é de 1997).

E há quanto tempo vocês estão separados?
Faz um mês hoje (não lembro o mês da entrevista, mas foi no primeiro semestre de 1997). Legalmente foi agora, um mês atrás.

E mesmo com ela tendo se convertido há muito tempo atrás, você continuou atuando no meio pornô.
A gente ficou esse tempo junto tentando. Eu tentando entender a religião dela, que eu não entendo até hoje e ela tentando entender o porquê de eu ter continuado. Ela queria que eu me convertesse ou pelo menos que eu largasse disso, partisse para outra. Mas é difícil. Se a gente tivesse uma situação melhor de trabalho, ainda dava. Mas é difícil.

(Continua)