2.11.09

Entrevista histórica 3: Walter Gabarron

Mondo Cane publica hoje a terceira parte da entrevista com o ator Walter Gabarron, um dos mais atuantes da fase explícita do cinema da Boca do Lixo de São Paulo. Veja também a primeira e a segunda partes do bate-papo entre Gabarron e o escriba deste blog.

Você tem algum fato marcante ao longo de sua carreira que gostaria de comentar?
Em cinema o que eu posso dizer é que só não fui passivo. Já fiz cena com travesti, com homem, com mulher. Então eu já fiz de tudo. Tudo o que você possa imaginar. Sexo eu já fiz praticamente tudo. Só não dei o..., né, porque o resto...

A visão de uma pessoa que faz sexo profissionalmente muda em relação ao sexo na vida pessoal dela? Fazer sexo torna-se uma coisa sem graça?
Acaba. Você não vê mais graça em nada. Uma pessoa "normal" automaticamente se excita quando vê uma mulher nua, uma coisa natural. Para mim, ver uma mulher nua, às vezes é como não estar vendo nada. A menos que seja uma coisa que eu não vi na vida. E é difícil. Todas (as mulheres) são iguais.

E depende da circunstância também.
O cara paga e entra no teatro. Quando vê a menina pelada, ele já está excitado. No meu caso não, é preciso muito mais para isso. Você fica muito frio. Não só o homem, como a mulher. A mulher que faz sexo explícito se torna muito fria. Ela coloca outros valores, o sexo fica em 10º plano.

Você tem filhos?
Um casal. Minha filha vai fazer 18 anos e o menino, 16 (hoje, os filhos de Walter são 12 anos mais velhos).

Você continua casado com a Eliana?
Estou desquitado, separação consensual. Mas a gente se dá super bem. Moro com meus filhos. Eles hoje não aceitam mais que eu faça (sexo explícito). Mas o que está feito, está feito. Eles não gostam quando estão comigo na rua e de repente alguém me reconhece. Eles ficam meio constrangidos. Outro dia passei com meu filho na Avenida Ipiranga (Centro de São Paulo) e tinha dois gays lá, que disseram: "Olha o carinha do cinema. Gostoso! Pauzudo!". Sabe aquela coisa bem de viado? E o X. (diz o nome do filho) do lado, ele ficou super sem graça. A X. (diz o nome da filha) nem fala, ela não gosta nem que o namorado saiba. Outro dia em casa, ele estava lá e passei um filme meu, não pornô, para ele ver. Depois que ele foi embora, a X. chamou minha atenção porque ela não quer que ele saiba que eu sou deste meio. É um preconceito por parte dela. O X. já nem tanto. Mas ela não gosta nem um pouco.

Talvez por ele ser homem.
Acho que sim, porque ele está doido para fazer 18 anos e vir aqui (no Teatro Orion).

Soube por meio de uma coluna do Arnaldo Jabor que a sua ex-esposa virou religiosa.
Saiu na coluna do jornal falando a respeito dela quando fez o filme Cléopatra. E depois, essa mesma citação é publicada no livro dele. Ela parou mesmo, virou Testemunha de Jeová, não quer nem saber disso. Aliás, ela tem nojo disso.

Faz tempo que ela se converteu?
Foi nas filmagens de Cléopatra. Exatamente 11 anos (essa entrevista com Gabarron é de 1997).

E há quanto tempo vocês estão separados?
Faz um mês hoje (não lembro o mês da entrevista, mas foi no primeiro semestre de 1997). Legalmente foi agora, um mês atrás.

E mesmo com ela tendo se convertido há muito tempo atrás, você continuou atuando no meio pornô.
A gente ficou esse tempo junto tentando. Eu tentando entender a religião dela, que eu não entendo até hoje e ela tentando entender o porquê de eu ter continuado. Ela queria que eu me convertesse ou pelo menos que eu largasse disso, partisse para outra. Mas é difícil. Se a gente tivesse uma situação melhor de trabalho, ainda dava. Mas é difícil.

(Continua)

Um comentário:

Matheus Trunk disse...

Aguardamos a quarta e última parte desta entrevista. Ela foi realizada nde? No Cine Orion?